terça-feira, 4 de agosto de 2009

A verdade

Onde reside a verdade numa relação amorosa? Quantas vezes calamos o que pensamos ou o que sentimos por medo, pudor, educação ou insegurança?A verdade é uma arma útil na construção de uma relação saudável? Ou, pelo contrário, ela pode literalmente dar cabo de uma relação? O que devemos omitir e o que podemos revelar da nossa vida anterior quando iniciamos uma relação? Se não gostamos da forma como o nosso parceiro pega no garfo, agarra no copo ou sorve ligeiramente o café, devemos dizer-lhe? Ou é melhor fechar os olhos e pensar como somos mesquinhos e idiotas em dar importância a pormenores tão ridículos?A verdade é que se estas ninharias não fossem importantes, as pessoas não reparavam tanto nelas. Um cotovelo mal posicionado em cima de uma mesa pode acabar com uma relação? Para algumas pessoas sim. Não porque o cotovelo retire o apetite a quem está sentado do outro lado da mesa, mas porque revela códigos de maneiras diferentes dos nossos. O mesmo pode suceder com pessoas que falam alto se fomos educados numa família em que todos falavam baixo.
E DEPOIS existe a verdade na cama. Como dizer ao parceiro que tem mau hálito de manhã ou que se esquece de lavar a cara antes de se deitar? Como lhe pedir que durma de lado para não ressonar? Como impedir que dê coices durante o sono ou que estenda o braço na direcção da nossa almofada e nos dê com ele na testa?
Quando se chega ao sexo, às vezes ainda é pior; explicar--lhe que não é assim que gostamos, que a campainha da porta não é onde ele pensa, que gostamos de fazer tudo com calma quando o outro embala no ritmo dos 100 metros barreiras, que preferimos beijos ternos aos lambidos, que a barba arranha e incomoda, que preferimos ser abraçadas a viver a sensação de esmagamento num torno, etc., etc.?
Falar verdade nem sempre é fácil, confrontar o outro com a nossa verdade pode ser ainda mais difícil. Tal como é melindroso explicar que as calças lhe estão curtas, que com aquela barriga não é boa ideia usar camisas de cor berrante, que o cabelo comprido só fica bem à geração sub--28, que ter estilo é mais do que usar cintos de marca ou gravatas caras.
A VERDADE não reside apenas nos grandes gestos nem é só vivida nos grandes momentos. Ela instala-se nos pequenos gestos do quotidiano e treina-se como um desporto. Calar a verdade do que pensamos e sentimos em relação à nossa cara-metade vai acabar por mutilar a imagem que temos dela. A pouco e pouco somos nós, com a nossa impiedosa rigidez, que matamos o encanto, muitas vezes por coisas que calamos, como quem brinca às escondidas com a verdade. Mais vale dizê-la, atirá-la para cima da mesa como uma bomba, pedir ao outro que não ponha o cotovelo em cima da mesa, que não pegue no garfo como se fosse uma chave inglesa e quando chegar a hora da verdade, explicar-lhe os caminhos do prazer passo a passo, como um mestre-escola faz com o ‘bêabá’. Como dizia Oscar Wilde, ‘o prazer é a única coisa digna de ter uma teoria’. Sem esta, a prática pode resultar torpe e errática. Mais vale dizer do que calar, doa a quem doer.

Isto é só exemplos, para que tu saibas que tudo o q tenho a dizer eu digo, seja bem ou mal intrepertada...

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