segunda-feira, 22 de junho de 2009

o Sol e o Vento


"O vento e o Sol fizeram uma aposta sobre quem conseguia tirar o casaco ao homem. O vento argumentou que a sua força era imbatível e começou a soprar, primeiro ao de leve, mascarado de brisa, e depois cada vez com mais força. Mas quanto mais o vento soprava, mais o homem se agarrava ao casaco e o fechava. Por fim, o vento cansou-se de soprar e amainou. Então o Sol despontou levemente e o homem, agradecido e aliviado, tirou o casaco."

Todos nós nos devíamos lembrar desta história de cada vez que queremos fazer braço-de-ferro com a nossa cara-metade. Sobretudo as mulheres, que passam a vida a embirrar com os maridos porque eles não fazem isto ou aquilo, ou porque não são exactamente como elas queriam que eles fossem, ou simplesmente porque num determinado momento eles não disseram ou fizeram aquilo que elas queriam.
As mulheres gostam de pensar que podem mudar os homens e, às vezes, até conseguem, mas essas mudanças só resultam se, de facto, os homens quiserem mudar, porque se o tentarem fazer só para agradar, tais alterações resultam em efeito boomerang: mais tarde ou mais cedo, eles regressam à sua verdadeira natureza. E quanto mais tarde, pior.
Uma relação equilibrada é feita de cedências e é negociada todos os dias. Funciona mais ou menos como as acções na Bolsa, com variações diárias, períodos de alta, de baixa, de instabilidade. Take-overs e volte-faces podem ocorrer. E, tal como nas grandes empresas, só uma parte da administração é que sabe o que se está a passar, a outra pode permanecer completamente a leste. O que é verdade é que o dia-a-dia de uma relação ou é gerido com amor, generosidade e bonomia, ou então instala-se o mal-estar, o espírito do cobrador, com ou sem fraque, e a má onda.

Todos temos a tentação de exercer o nosso poder dentro de uma relação. É a velha história de quem manda, quem dá as cartas, quem sai por cima quando o conflito estoira, quem ganha este ou aquele braço-de-ferro. Há quem diga que um bom casamento tem tanto de amor como de karaté, que os homens precisam de sentir que nós, as mulheres, não permitimos tudo. Pois não. Mas tratá-los como macacos amestrados também não é solução, embora seja verdade que alguns nem sequer se importem. Um homem que faz tudo o que uma mulher quer é tão entediante como uma mulher que diz a tudo que sim – ou talvez ainda mais, porque se das mulheres ainda é expectável algum espírito de submissão, nos homens tal comportamento é visto como inadmissível. É o chamado ‘macaquinho dos pratos’: está sempre a sorrir e a bater palminhas, mesmo se o atirarmos para o caixote do lixo, e só desliga quando lhe arrancamos a pilha.

O vento não é bom estratega, o Sol é bom conselheiro. O vento assusta e incomoda, o Sol aquece. O vento afasta, o Sol cativa. O vento cansa e o Sol vicia. E o amor pode e deve ser um bom vício, desde que nos faça bem. Aquele prazer repetido diariamente de acordar ao lado de quem amamos, de sentir a sua presença, de poder agarrar e dar um bocado de nós todos os dias é um bom vício que vale a pena ser vivido. É inútil pensar que podemos viver uma relação amorosa sem criar alguma dependência; o corpo, o espírito e o coração habituam-se muito depressa ao prazer repetido dos pequenos gestos. Precisamos todos tanto de amor como o planeta precisa de Sol. Sem Sol não havia vida na Terra e sem amor também não. E quanto ao vento, é preciso deixá-lo soprar de vez em quando para varrer o lixo, mas sem nunca o usar como uma arma. Caso contrário, pode virar-se contra nós~.
~Amante~

Sem comentários: