terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Mágoa q Magoa

É uma palavra bonita, mágoa.
Sabe a lágrimas silenciosas, a noites de insónia, a manhãs de domingo solitárias e sem sentido. Tem cores pastel, muito tristes e desmaiadas, ou então violetas de viuvez, pretos baços de carpideira muda vencida pela resignação. Está para lá da tristeza, da saudade, do desejo de lutar pelo que já se perdeu, da raiva de não ter o que mais se queria, da pena de ter deixado fugir um grande amor, por ser demasiado grande.
Com o tempo, limpam-se os destroços, enterram-se os mortos, tratam-se os feridos que sao as nossas feridas, feitas de saudade, desencontros, palavras infelizes e atitudes insensatas, medos, frustações e tudo o que nunca se diz.
Há quem se rodeie de amigos, há quem tome calmantes, há quem viaja, há quem descarregue tudo na bebida... Mas....
O pior é q quando lá se chega, apetece tudo menos lá ficar. Percebemos que não há longe nem distância para a dor, e que nenhum amante, amigo, mãe, irmão, droga ou bebida matam a saudade do q já fomos ou de quem já tivemos nos braços.
A mágoa chega então quando o cansaço já não nos deixa sentir mais nada. É silenciosa e matreira, instala-se sem darmos por ela, aloja-se no coração e começa a deixar sinais aqui e ali, dentro de nós. A pouco e pouco sentimos que já não somos a mesma pessoa. As cicatrizes podem esbater-se com os anos e ser remendadas com hábeis golpes de plástica, mas ficarão para sempre debaixo dos excertos que fazemos á alma.
O cansaço mata tudo.
A raiva de não termos quem tanto amámos, a fúria de não sermos donos da nossa vontade, o orgulho de termos perdido quem mais queríamos. Só não mata as saudades e a vontade de continuar a sonhar que um dia pode mudar outra vez e libertar-nos de nós mesmos e do sofrimento, tão grande quanto involuntário, tão patético como verdadeiro.
Às vezes, quando a mágoa é enorme e sufoca, vegetamos em silêncio para que ela não nos coma. Fingimos que está tudo bem, rimo-nos de nós próprios perante os outros e até mesmo perante o outro que vive dentro de nós. Tornamo-nos espectadores da nossa dor. Afastamo-nos de nós, do que somos, daquilo em que acreditamos. No fundo estamos a desistir, como quem volta atrás porque tem medo do escuro, vencidos pela desilusão, cansados de esperar em casa que o mundo pare e se lembre de nós.
Mas o mundo nunca pára. Nada pára. A vida foge, os dias atropelam-se, é preciso continuar a vivê-los, mesmo com dor, mesmo com mágoa. pelo menos a mágoa magoa, faz-nos sentir vivos. Arde no peito e no orgulho, mas pouco a pouco vai matando a dor. Torna-se a nossa companheira mais próxima, deixando de nos defender da tristeza, que se vai consumindo como uma vela esquecida num presépio morto que uma corrente de ar ou um novo sopro de vida um dia apagará. Mas isso só é possível quando conseguimos ESQUECER.

Amante

Sem comentários: